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Entrar num quarto inabitado, num quarto que raramente sente os passos no chão. Sentar numa cama que já não sabe bem quem lá dormia. Abrir gavetas e encontrar no lugar de roupa, livros, cadernos da faculdade, fotos perdidas, bilhetes de cinema e concertos, bugigangas que não lembram nem ao menino Jesus, mas que a mim dizem muito.
O meu quarto. Aquele que foi o meu quarto, e que apesar de não o ter sido durante toda a vida, visto que nos mudamos para a Bélgica, não deixa de ter vestígios de toda uma vida.
Procurei a minha caixa. Aquela caixa. Trouxe-a de Portugal. Guardo-a desde os onze anos. Encontrei-a. Abri. Carta a carta, postal a postal, foto a foto, revivi. O meu quarto em casa dos meus pais tem tanto mas tanto de mim... Reli cada carta, cada postal (Sónia, fazes ideia de quantos postais teus tenho?).
Vi foto a foto, centenas. Deixei-me ficar ali. Peguei numa foto de um primo e das manas quando eram pequeninos, e as lágrimas rolaram. Porquê não sei...