Lembro-me perfeitamente do dia em que ela chegou à turma. Tímida. Com as bochechas encarnadas. Não olhava para ninguém. Era nova na escola e na turma. Eu já conhecia toda a gente muito bem, e com quinze anos já se sabe que os grupinhos já estão formados. Fizemos por alguns dias o mesmo caminho a pé, uma à frente outra mais atrás. Eu porque não « precisava » falar com ela, ela porque não tinha coragem de me falar.
Um dia falamos. Fomos o caminho todo a conversar, mas no dia seguinte ela não me falou na escola e eu pensei : « olha que besta ! ». Mas ela não era uma besta, e daí à amizade foi um passo. As duas melhores alunas e amigas, que volta e meia davam cabo da cabeça aos professores pois estes conheciam-lhes o valor enquanto alunas, mas não reconheciam as loucuras da idade…
O tempo foi passando e as experiências que vivi com a Ana foram muitas. Com ela eu podia falar de tudo. Ela podia falar de tudo comigo. Sexo, amor, dúvidas, escola, amigos, tudo era assunto sem haver qualquer tipo de intriga.
Foi com ela que apanhei a primeira bebedeira. Lembro-me que estavamos mesmo a um mês de fazer 18 anos, quando, numa casa de férias em Coimbra, eu a desafiei a beber uma CANECA de bagaço. Ela, tão louca ou mais que eu, aceitou o desafio, e meia-hora depois estavamos no café da vila a entornar chávenas de café. Nessa mesma altura passamos por situações engraçadíssimas.
Até ao dia em que terminamos o 12o ano. A entrada na faculdade. E seguimos caminhos opostos. De vez em quando ainda nos encontravamos, ainda enviavamos mensagens, mas sem nunca ter percebido porquê a Ana afastou-se e fez novos amigos na faculdade. E eu fiz na minha, amigos com quem até hoje mantenho contacto, mas sem nunca esquecer as nossas aventuras e desventuras.
Antes de me mudar para cá, há precisamente 5 anos atrás (faz para a semana) enviei-lhe uma mensagem a dizer que vinha. Que não ia acabar o curso. Que ia deixar tudo e começar algo diferente. Ela respondeu-me que vinha a minha casa. Quando a vi, a amizade mantinha-se intacta, pelo menos da minha parte. Despedimo-nos com todo o carinho de irmãs e ria-mos imaginando o que me esperava aqui.
Depois disso ainda falamos por e-mail. Quando se deu a mudança trágica na minha vida, ela como que adivinhando, enviou-me um mail e eu contei-lhe. « Tu mereces muito melhor ! » - frase cliché, mas que nunca se esquece.
Há mais de um ano que não sabia nada dela. Porque sou desmazelada. Porque posso lembrar-me muitas vezes de uma pessoa, de um amigo, pensar na pessoa todos os dias, mas sou preguiçosa para mandar mensagem ou dar notícias. Porque no fundo, não devo ser grande amiga, e tenho é sorte de ter muito poucos, mas bons amigos. Hoje encontrei-a no facebook… Continua igual. Se eu pareço uma miúda, ela uma miúda parece. É uma óptima profissional e é feliz, a julgar pelo que vi…
E bateu a saudade. Dela, da Sónia, da Ana (Azevedo), da Joaninha, da Carla, da Claudia…
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